Morte de fã de MS de Taylor Swift completa um ano sem conclusão de inquérito

- 18 novembro





A morte da sul-mato-grossense Ana Clara Benevides completou no último domingo (17) um ano, por exaustão térmica, durante o show da cantora Taylor Swift, no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. O inquérito segue em investigação, ainda sem punição sobre os possíveis responsáveis sobre a morte.

O advogado da família de Ana, João Paulo Delmondes, em entrevista ao Jornal Midiamax, explicou que, desde o início do processo, o inquérito não prossegue como o esperado. Foram ouvidos nas oitivas do inquérito a amiga de Ana, que estava no momento do ocorrido, o pai da vítima e o diretor-presidente da T4F, Serafim Magalhães de Abreu Junior. Também estão anexadas a conclusão do laudo pelo IML.

“Sempre estou solicitando cópias e pelo que foi enviado até o momento não consta a oitiva de testemunhas. Se essa informação existe, desconheço ou foi omitida. Tomamos conhecimento que o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público, solicitando mais prazo para a sua conclusão e o órgão ministerial, além de pedir um relatório minucioso e conclusão com urgência, fez diversos questionamentos a empresa T4F (Time For Fun), tais como, esclarecer como foi o atendimento à vítima, como foi a sua remoção, qual a infraestrutura de socorro do evento, número de atendimento no dia dos fatos, dentre outras coisas”.

O advogado diz que, por enquanto, há apenas essas informações de que o inquérito foi novamente devolvido ao Ministério Público do Rio de Janeiro.

Sem respostas

“Essa lentidão é muito prejudicial à família e a sociedade. A família porque a identificação e punição dos culpados traz, no mínimo, um sentimento de justiça e conforto que houve uma apuração do ocorrido. A sociedade porque a demora traz desconfiança nas instituições e o sentimento que não foi levado a sério um fato que chocou ao mundo. Por isso, permaneceremos sempre vigilantes e cobrando rigorosamente a conclusão do inquérito e todas as autoridades envolvidas”.

A Polícia Civil do Rio não teria apresentado qualquer justificativa para a demora. O advogado teria sido informado que a delegacia que trata o caso trocou de delegado três vezes, o que pode ter causado o atrasou na tramitação do inquérito e a conclusão.

“Não há qualquer sanção aplicada aos envolvidos até o momento. Estamos monitorando a tramitação do inquérito, que poderá evoluir para uma ação penal, além de buscarmos a reparação civil do dano por meio de uma ação específica”.

Delmondes ressalta que a família de Ana Clara, mais do que qualquer indenização financeira, pretende buscar no judiciário um respaldo pedagógico que sirva de exemplo, visando evitar a recorrência de incidentes semelhantes em grandes eventos.

Além disso, o processo visa responsabilizar a empresa pela conduta reprovável adotada, que, mesmo diante das condições térmicas evidentes na cidade no dia do evento, priorizou o lucro em detrimento do bem-estar de seus consumidores.

Vaquinha para o translado

Para a família, não houve o respaldo necessário diante da tragédia. Todos os custos com traslado, funeral e sepultamento da Ana Clara foram suportados apenas com a ajuda de familiares, amigos e “vaquinha” divulgada na internet, sem qualquer colaboração da T4F e tampouco de órgãos públicos municipais ou estaduais do Rio de Janeiro.

“Infelizmente, no momento mais importante, os pais não tiveram esse apoio financeiro da T4F e graças à colaboração mencionada conseguiram o valor necessário. A T4F tentar justificar que fizeram tentativas de contato com uma amiga, primas e com pai da Ana Clara, mas em nenhum momento enviou um representante presencial da empresa para tratar de um assunto com tamanha sensibilidade”.

O advogado destaca que uma psicóloga ligou para o pai de Ana, entretanto, naquele momento, a família estava levantando recursos para trazer o corpo para velório.

“Se não fossem os amigos, familiares e a solidariedade da internet poderiam ter ficado por mais de três dias na capital carioca”.

Empresa pediu desculpa

Serafim Abreu, CEO da Time For Fun, empresa responsável pelos shows da cantora Taylor Swift no Brasil, divulgou um vídeo para se pronunciar sobre o caso, cinco dias após a morte da sul-mato-grossense Ana Clara Benevides.

“Nós sabemos a enorme responsabilidade que temos ao organizar um evento desse porte. Por isso, não economizamos esforços e recursos para seguir sempre as melhores práticas mundiais do setor, para garantir conforto e segurança para todos. Ainda assim, nós enfrentamos dias de calor extremo no último final de semana no Rio de Janeiro, com uma sensação térmica altíssima e sem precedentes. Reconhecemos que poderíamos ter tomado algumas ações alternativas, adicionais a todas as outras que fizemos, como, por exemplo, criar locais de sombra nas áreas externas, alterar o horário dos shows inicialmente programados e enfatizar mais a permissão de ingressar com copos de água descartáveis”, disse.

Exaustão térmica

A morte de Ana Clara Benevides foi causada pelo calor extremo. Ana desmaiou após horas na fila do show, no dia 17 de novembro de 2023, no Rio de Janeiro. A morte da jovem aconteceu em meio a onda de calor e gerou uma série de medidas com novas regras federais para realização de eventos com aglomeração de pessoas.

De acordo com laudo necroscópico divulgado pela TV Globo, a perícia concluiu que a causa da morte da jovem foi calor difuso, ou seja, extremo. A exposição que causou a morte foi direta e a fonte de calor, conforme revela o documento, foi o sol.

Ana Clara teve “exaustão térmica com choque cardiovascular, comprometimento grave dos pulmões e morte súbita” depois de ficar horas na fila fora do Estádio Engenhão e mais algumas horas aguardando o início do show, já dentro do estádio. Ela passou mal e desmaiou no início da apresentação da cantora.

Despedida

O corpo de Ana foi enterrado no dia 21 de novembro de 2023, em Pedro Gomes. Cercada de familiares, amigos (da cidade e da universidade) e de moradores que se sensibilizaram, Ana foi enterrada enquanto os presentes rezavam. Ela cursava o 8º semestre de psicologia na UFR (Universidade Federal de Rondonópolis).

Até a chegada do corpo, a família relatou que enfrentou burocracia, além de não receber apoio financeiro da organização do show e da equipe da cantora, foi realizada uma vaquinha para o pagamento do translado. O pai e uma prima de Ana chegaram a viajar para o Rio de Janeiro para agilizar os trâmites.

O corpo de Ana chegou de avião em Campo Grande, três dias após a morte no Rio de Janeiro. Da Capital de MS, seguiu para Sonora, onde foi velada durante a noite e madrugada. Depois, foi encaminhada para Pedro Gomes, município que nasceu.

Após um velório na sua cidade de nascença, cortejo acompanhou o caixão até o Cemitério Municipal. Ana nasceu em Pedro Gomes, mas viveu grande parte da vida em Sonora até se mudar para Rondonópolis para fazer faculdade.

Fonte: Midiamax